
IA vira novo oráculo em tarô, astrologia e I Ching, mas especialistas apontam riscos e limites
Os oráculos, quem diria, migraram para a inteligência artificial. Se para os mais céticos já era difícil acreditar nos astros, no tarô e no I Ching, guia filosófico chinês, imagine o que se perde quando a escuta humana é substituída por um algoritmo? Saem anos de estudo, análise dos planetas, leituras de livros, cartas ciganas e anagramas e entram o Chat PGT, o Gemini, o Copilot e afins.
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A sede por respostas a jato e com baixo custo, segundo a taróloga Pam Ribeiro (que cobra R$ 107 por uma consulta de 15 minutos), explica a popularidade da IA, mas não substitui a profundidade do atendimento tradicional. “Muitas vezes, a inteligência artificial traz informações erradas e aquilo que se quer ouvir. O autoconhecimento não funciona desse jeito: se você só escuta o que quer, por que fazer a pergunta?”, questiona.
Com um olho na inteligência artificial e outro na ancestral, a jornalista Petria Chaves acaba de lançar o livro “Como sei o que sei — O desenvolvimento da intuição como trilha para nossa inteligência ancestral” (Academia), em que investiga como podemos nos reconectar com nossa sabedoria interior em meio a um mundo cada vez mais acelerado e marcado pela tecnologia.
Na obra, a âncora da Rádio CBN propõe que essa percepção seja entendida como uma forma de conhecimento profundo que está presente em cada pessoa, um “antigo saber” que dialoga com o presente. O livro também aborda como “desacelerar, silenciar, respirar”, práticas que favorecem o acesso a essa intuição e a essa “IA” interior.
Petria é uma grande fã de astrologia e tarô analógicos. “Desde muito cedo, faço o mapa astral. Jogo tarô com uma astróloga taoista três vezes por ano. Sou muito consumidora de oráculos tradicionais”, afirma. Segundo ela, a IA deve ser usada apenas como ferramenta de apoio, nunca como protagonista. “Quando delegamos à máquina o que é próprio da nossa experiência, perdemos a capacidade de nos conectar com o mistério da vida”, diz.
No I Ching, a diferença entre humano e algoritmo fica ainda mais evidente. Em consultas presenciais, moedas lançadas ao acaso carregam intenção e vínculo com o praticante; no digital, o “acaso” é apenas simulado por cálculos estatísticos.
Para Wagner Canalonga, Mestre Regente da Sociedade Taoista de São Paulo, psicólogo e especialista em I Ching, essa distinção é fundamental: “A prática tradicional envolve consciente e inconsciente. A inteligência artificial trabalha com a razão do yang, utilizando algoritmos. O resultado pode ser impressionante, mas não há o elemento do yin, a sensibilidade”.
Na astrologia, Amanda Rodrigues, do perfil Astrodica, vê a IA como apoio. “Se você perguntar o que significa um Sol em Leão, ele vai te responder. O problema é que a IA quer nos agradar.”
Esse ponto conecta-se à análise de Elis Monteiro, professora de Marketing Digital do Ibmec e do MBA: “A IA é projetada para otimizar a experiência do usuário, mas isso não é empatia. Ela não sente, não julga nem percebe nuances”, observa. “Quando alguém busca uma resposta para questões pessoais, a máquina tende a dar o que a pessoa deseja ouvir. O humano é insubstituível, pois é ele quem dá contexto, interpreta sinais e entende o emocional.”
Concluídas as consultas, fica a dica: enquanto a IA “passa pano” e, muitas vezes, dá colinho, “oráculos” profissionais analisam contextos. Para quem está buscando transformação, mudança, e não o consolo, o olho no olho segue imbatível.
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