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‘Menina excepcional. Tinha planos de me dar um neto’: sogra lamenta morte de Bárbara, baleada na Linha Amarela

01/11/2025 11:01 O Globo — Rio

"Ela falava tão doce, era uma menina excepcional. Tinha planos de me dar um neto". Com a voz embargada, foi assim que Andréia Assis tentou descrever a nora, Bárbara Elisa Yabeta Borges, morta após ser atingida por um tiro na cabeça durante um confronto na Linha Amarela. No Instituto Médico-Legal (IML), neste sábado, familiares se reuniram em meio ao desespero e à incredulidade.
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A tragédia aconteceu na altura da Vila do Pinheiro, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, na tarde desta sexta-feira. Bárbara estava em um carro por aplicativo quando ficou presa no fogo cruzado. O motorista do veículo também foi atingido — baleado na mandíbula — e foi levado ao Hospital Federal de Bonsucesso, onde passou por cirurgia e permanece no CTI. Bárbara chegou ao hospital em estado grave, mas não resistiu.
A Polícia Civil informou que a perícia foi solicitada para o local e que testemunhas estão sendo ouvidas. Agentes da 21ª DP (Bonsucesso) fazem diligências para identificar os responsáveis e esclarecer as circunstâncias do tiroteio.
A sogra, Andréia Assis, contou que a jovem havia acabado de ser promovida no banco onde trabalhava, e comemorava pequenas conquistas do dia a dia.
— Foi promovida no banco agora, há pouco tempo. Estava super feliz. Tirou a carteira de motorista, vibrando. Altos planos com meu filho. O meu filho chegou em casa carregado igual a um bebê de colo ontem. Ele está dopado — disse Andréia, emocionada.
Segundo ela, o filho — companheiro de Bárbara — estava em São Paulo a trabalho quando soube do que tinha acontecido, pelas notícias da imprensa.
— Eu soube pela imprensa. Ele estava em São Paulo. Eu trabalho, e tenho GPS pra monitorar os meus filhos. Monitoro ele, o Breno, que é o meu mais novo, e a Bárbara. Eu fui fazer um negócio lá embaixo no prédio e tinha uma senhora vendo um vídeo desse arrastão. Aí eu perguntei pra ela: 'Isso é agora?' Porque a gente nunca sabe. Ela disse: 'É agora, nesse exato momento'. Quando subi, ele me ligou, já transtornado: 'Mãe, corre, vê o que está acontecendo com a Bárbara'.
A sogra contou que o filho percebeu algo errado ao ver no GPS que a companheira estava no hospital.
— Ele disse: 'Tá dando a localização dela dentro do Hospital de Bonsucesso'. Só que a gente esperava Que ela tivesse passado mal, que estivesse ferida… Mas a menina já chegou praticamente morta.
'Compartilhando a vida'
Bárbara, que tinha 9,2 mil seguidores no Instagram, se apresentava com a frase “compartilhando a vida”. Um dia antes de morrer, repostou uma reflexão do escritor Edgard Abbehusen, sobre o valor das relações e o que realmente importa:
“Você entende isso? É caro perder o que não está na prateleira do supermercado, nem na vitrine de uma loja no shopping. A gente gasta tanto tempo correndo atrás do que tem preço, que esquece de cuidar do que tem valor… O que tem valor, quando vai embora, leva um pedaço da gente junto.”
A mensagem, publicada por Bárbara horas antes de ser morta, ganhou novo significado para quem a conhecia — uma jovem cheia de planos, de fala doce e sorriso fácil, cuja vida foi interrompida em meio à violência que se repete nas vias do Rio.

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