
'Minhas filhas estão ali, não faz isso': mulher que denunciou PM por estupro em blitz teve medo de que adolescentes vissem crime
Mulher denuncia que foi estuprada por PM dentro de posto policial
A mulher de 48 anos que denunciou ter sido estuprada por um policial militar em um posto do Batalhão da Polícia Rodoviária (BPRv), na PE-60, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, na noite da sexta-feira (10), contou à TV Globo que teve medo de que as filhas vissem o crime ou fossem vítimas. Segundo ela, as duas adolescentes, de 14 e 16 anos, estavam no carro que foi parado na blitz (veja vídeo acima).
"'Moço, não. Minhas filhas estão ali. Não faz isso'. E ele insistindo, levantando, levantando, mandou eu ficar de costas. Quando ele viu que eu não ia abrir as pernas de jeito nenhum, ele abaixou a minha cabeça e fez o ato na minha boca. (...) Eu tive vários medos ali, né? Da minha filha vir atrás de mim e ser abusada também ou presenciar aquilo. Eu tive medo dele chamar os colegas para abusarem também. Foram momentos terríveis", contou a mulher em entrevista à TV Globo.
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A mulher, que preferiu não ser identificada, afirmou que comprou o carro recentemente e não sabia que o automóvel estava com atraso no pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e de uma multa.
"Peguei minha amiga no aeroporto, vim até em casa. Em casa, eu peguei minhas filhas e vim para a região das praias, né? Passando ali na Polícia Rodoviária, eu fui parada numa blitz e fui conduzida até o interior do prédio. Ele me chamou para comunicar que o carro estava atrasado", declarou.
Ainda segundo a mulher:
o estupro aconteceu após o policial fazer perguntas sobre a vida pessoal dela;
em seguida, ele a levou para um dormitório com dois beliches e apagou a luz
o abuso durou cerca de 20 minutos;
outros policiais estavam no posto durante toda a abordagem e o crime.
"Lá dentro ele me comunicando isso [que o carro estava com débitos], ele ficou ali com aquela conversa, perguntando o que eu fazia, quem eu era, de onde eu era. Depois ele virou para os colegas e disse que eu iria beber água e me conduziu até lá dentro. Lá dentro tinha um quarto e entrou lá no quarto, começou a levantar meu vestido, apagou a luz e começou os abusos", disse.
Ela também contou que, após o estupro, o policial acendeu a luz, pegou uma toalha que estava sobre um dos beliches e deu para ela se limpar. Em nota, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS) informou que abriu um processo disciplinar para apurar a conduta dos policiais (veja resposta abaixo). Até a publicação desta reportagem, nenhum policial envolvido no caso havia sido afastado.
À TV Globo, vítima contou que teve medo que a filha fosse procurá-la e presenciasse o abuso
Reprodução/TV Globo
Defesa acredita ter outras vítimas
No sábado (11), a mulher trabalhou até as 19h e, em seguida, foi até a Delegacia da Mulher do Cabo de Santo Agostinho, onde denunciou o crime e reconheceu o policial militar a partir de fotos apresentadas.
Na segunda-feira (14), a vítima passou por um exame de coleta de material genético para possível identificação do estuprador. Além disso, ela também registrou uma denúncia na Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social.
Segundo a advogada Maria Júlia Leonel, que representa a vítima e é integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), a forma como o crime foi cometido pode indicar a existência de outras vítimas.
"A forma que houve a abordagem, a forma tranquila em que ele executou o crime, e o contexto todo de ter outros colegas na cena do crime. A gente está falando de um estupro que foi um estupro institucionalizado. A gente está falando de um policial fardado que cometeu um crime de estupro em um posto policial", contou a advogada.
A defesa da mulher cobra um posicionamento do estado para que o crime seja apurado e os envolvidos sejam responsabilizados.
"A gente precisa que o estado de Pernambuco, a partir de outras frentes, se mobilize para que esse acompanhamento seja feito ao ponto de identificação do sujeito, identificação dos demais agentes policiais que estavam com esse policial dentro da abordagem e todos os procedimentos seguintes, de fato, sejam executados. Como a investigação, o que a gente espera, e o processo para que a Justiça seja, de fato, feita", detalhou.
Sociedade civil cobra o estado
O Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), organização da sociedade civil que atua na pauta de direitos humanos, manifestou indignação e repúdio ao caso. Em nota, a organização informou que o fato "afronta gravemente os princípios mais básicos da dignidade humana e da ética pública" e exigiu uma resposta imediata e contundente do estado.
"O silêncio ou a demora em se manifestar diante de um crime dessa natureza apenas reforçará a sensação de impunidade e enfraquecerá a confiança da sociedade nas instituições de segurança pública", disse o Gajop em um trecho da nota.
Além do afastamento imediato do policial acusado de todas as suas funções operacionais, a organiz
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