Vice de Trump provoca críticas ao dizer esperar que a mulher, de origem hindu, se converta ao cristianismo, e fala em 'intolerância anticristã'
O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, gerou ampla reação negativa nesta semana ao afirmar que esperava que sua mulher, Usha Vance — de origem indiana e criada em uma família hindu — eventualmente se convertesse à fé católica.
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— Eu espero que, eventualmente, ela seja tocada da mesma forma que eu fui tocado na igreja? — disse ele durante um evento na Universidade do Mississippi, na quarta-feira, em resposta a uma pergunta do público: — Sim, sinceramente, eu desejo isso, porque acredito no Evangelho cristão, e espero que, com o tempo, minha mulher passe a ver as coisas da mesma forma.
Os comentários, feitos diante de milhares de estudantes em um evento da Turning Point USA em homenagem ao ativista conservador assassinado Charlie Kirk, foram amplamente divulgados pela mídia e rapidamente criticados nas redes sociais.
Além das críticas partidárias, alguns indianos e indo-americanos de diferentes espectros políticos afirmaram que Vance não estava respeitando as escolhas religiosas da mulher. Houve também quem interpretasse suas observações como uma sugestão de que o hinduísmo seria inferior, em um momento em que a aplicação rigorosa das leis de imigração tem deixado muitos sul-asiáticos e pessoas de religiões não cristãs inseguras quanto ao seu lugar na sociedade americana.
A reação refletiu preocupações da comunidade sul-asiática com políticas de imigração do governo Trump e sua proximidade com grupos cristãos conservadores.
Suhag Shukla, diretora executiva da Hindu American Foundation, descreveu os comentários de Vance como “basicamente dizer: 'esse aspecto da minha mulher simplesmente não é suficiente'”.
— Se ele fosse apenas um pastor comum, tudo bem — disse Shukla, que já criticou tanto democratas quanto republicanos: — Mas ele não é o pastor; ele é o vice-presidente que quer ser presidente. Há muita incerteza na comunidade. Isso apenas alimentou ainda mais esses medos.
Usha Vance não respondeu publicamente aos comentários do marido nem à reação negativa.
Vance fala em 'intolerância anticristã'
Na sexta-feira, JD Vance comentou sobre a repercussão em resposta a um post na rede social X, que o acusava de jogar a religião da mulher “debaixo do ônibus”. O vice-presidente classificou a mensagem como “nojenta” e repleta de “intolerância anticristã”.
Ele também chamou a mulher de “bênção mais incrível” de sua vida, lembrando que já havia dito isso no evento da Turning Point. Acrescentou que ela o incentivou a se reconectar com a fé e que, embora ainda desejasse que ela se convertesse, “continuaria a amá-la e apoiá-la” independentemente disso.
Não é incomum que pessoas em relacionamentos inter-religiosos — especialmente entre cristãos de diferentes denominações — esperem que seus parceiros se convertam. A Igreja Católica Romana ensina que o batismo é necessário para a salvação.
Criado em uma família levemente evangélica, Vance descreveu-se como tendo passado por uma “fase de ateísmo raivoso” antes de se converter ao catolicismo. Sua adesão à fé católica se reflete em sua política, com ênfase frequente em princípios de família tradicional, conservadorismo social e populismo econômico.
Usha Vance, nascida e criada no sul da Califórnia por pais imigrantes da Índia, já falou sobre ter crescido em um lar hindu religioso. O casal, que se conheceu na Faculdade de Direito de Yale, disse publicamente que cria os três filhos em um lar intercultural e inter-religioso.
Em entrevista ao podcast de Meghan McCain, em junho, Usha afirmou que, embora os filhos estudem em escola católica, podem escolher se desejam ser batizados.
— As crianças sabem que eu não sou católica, e têm bastante acesso à tradição hindu por meio de livros que damos a elas, coisas que mostramos, a visita recente à Índia e alguns dos elementos religiosos dessa viagem — disse: — Então isso faz parte da vida delas, e elas conhecem muitos hindus praticantes dentro da própria família.
Essas questões familiares podem assumir outro significado em um contexto político e histórico mais amplo. Na Índia, existe sensibilidade em relação à pregação de não-hindus, devido à longa história de domínio muçulmano e de atividade missionária cristã.
Os comentários de Vance também tocaram em um nervo delicado em meio ao aumento da retórica contra imigrantes. Um relatório de agosto da Stop AAPI Hate, coalizão que monitora atos de violência contra asiático-americanos, documentou alta recente do discurso de ódio online contra sul-asiáticos, relacionada à candidatura de Zohran Mamdani à prefeitura e a debates sobre vistos H-1B.
No início deste mês, um vereador de Palm Bay, na Flórida, foi censurado após publicar mensagens insultando indianos, dizendo que vinham aos EUA para “esvaziar nossos bolsos” e pedindo deportação em massa. C
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