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'Ela se mordia de dor', relata mãe de jovem presa injustamente que morreu de câncer dois meses após ser absolvida no RS

03/11/2025 17:44 G1 — Brasil

Jovem presa injustamente por 6 anos morre de câncer dois meses após ser absolvida por júri
Damaris Vitória Kremer da Rosa, 26 anos, morreu 74 dias após ser absolvida por um júri no Rio Grande do Sul. Ela passou seis anos presa preventivamente por um crime do qual foi inocentada. Durante esse período, afirmou à mãe Claudete Kremer Sott, 51 anos, ter enfrentado dores intensas causadas por um câncer no colo do útero que só foi diagnosticado quando já estava em estágio avançado.
Claudete concedeu entrevista à jornalista Gabriela Plentz, da Rádio Gaúcha, sobre os últimos meses da filha e os anos de sofrimento dentro do sistema prisional. Segundo ela, a jovem 'se mordia de dor'.
“Presas diziam que estavam morrendo de dor, iam lá pedir medicamento e repassavam para ela, porque não aguentavam ver ela gritando de dor e não davam um paracetamol para tomar”, conta Claudete.
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Damaris foi presa em agosto de 2019, acusada de envolvimento no homicídio de Daniel Gomes Soveral, ocorrido em Salto do Jacuí. Segundo a denúncia, Damaris teria atraído a vítima ao local do crime.
A defesa sustentou que ela apenas relatou ao então namorado, Henrique Kauê Gollmann, que havia sido estuprada por Daniel. Henrique foi condenado, Wellington Pereira Viana foi absolvido, e Damaris só foi julgada em agosto de 2025, quando foi inocentada por falta de provas. (saiba mais abaixo)
Durante o período em que esteve presa, Damaris passou por, ao menos, quatro unidades prisionais. Claudete descreve condições degradantes, especialmente no presídio de Rio Pardo:
“É uma antiga senzala onde as baratas caminham por cima das camas, por cima dos alimentos. Não tem pátio nem para as visitas. Quando chove, a gente fica na chuva", comenta Claudete.
O g1 entrou em contato com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) do Rio Grande do Sul, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Poliglota e fã de literatura: quem era a jovem
A mãe ainda relata que a filha passou um ano com dores intensas sem atendimento médico adequado, e diz ter enfrentado dificuldade para conseguir auxílio para a filha. Em março deste ano, Damaris foi levada a um posto de saúde:
“Quando [o médico] foi tocá-la, o jaleco dele e a sala toda ficaram banhados de sangue. Ele disse que dali ela só sairia de ambulância para o hospital".
O diagnóstico foi de câncer em estágio avançado, com metástase. A prisão foi convertida em domiciliar em março de 2025, e Damaris passou a usar tornozeleira eletrônica, mesmo durante o tratamento oncológico.
“Ela fazia quimioterapia e radioterapia todos os dias. Ia e voltava gritando de dor. Tomava morfina a cada quatro horas e mesmo assim não fazia efeito", conta Claudete.
Apesar da gravidade da doença, os pedidos de soltura foram negados pelas autoridades por anos. Claudete contesta:
“Como comprovar uma doença grave se não permitiam uma avaliação concreta? Diziam que ela era hipocondríaca".
Após a absolvição, Damaris tentou retomar a vida. Queria cursar Biomedicina, sonhava em estudar e recuperar o tempo perdido.
“Ela disse: ‘Mãe, eu não vou desistir. Eu quero realizar meus sonhos, meus projetos’”, relata.
Nos últimos dias, Claudete esteve ao lado da filha no hospital. A despedida foi marcada por dor e amor:
“Ela abriu os olhos, olhou pra mim e deu um suspiro de alívio. Eu disse: ‘Vai com Jesus. Daqui a pouquinho, a mãe vai encontrar com você".
Infográfico - Jovem presa injustamente por 6 anos morre de câncer dois meses após ser absolvida
Arte/g1
Prisão e pedidos da defesa negados: a cronologia do caso
Conforme os registros da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo, aos quais o g1 teve acesso, Damaris foi presa preventivamente em agosto de 2019, por suposto envolvimento no homicídio de Daniel Gomes Soveral, ocorrido em novembro de 2018, em Salto do Jacuí, no Noroeste do RS.
A denúncia foi oferecida à Justiça em julho de 2019. Na ocasião, a Promotoria alegou que Damaris "ajustou o assassinato juntamente com os denunciados" e manteve "conduta dissimulada, um relacionamento com a vítima, de modo a fazê-la ir até Salto do Jacuí, local estipulado para a execução".
Conforme o MP, outras duas pessoas tiveram envolvimento na morte: Henrique Kauê Gollmann (namorado de Damaris na época) e Wellington Pereira Viana. Henrique teria efetuado o disparo que matou Daniel, e Wellington "concorreu para a prática do fato ao ajustar e auxiliar na organização do homicídio".
Henrique foi preso no Presídio Estadual de Venâncio Aires. O júri o condenou pela morte. Welligton chegou a ser levado para o Presídio Estadual de Santa Cruz do Sul. Ele foi absolvido das acusações.
A defesa de Damaris sustenta que ela apenas contou a Henrique que teria sido estuprada por Daniel. Em retaliação, ele teria assassinado o homem e ateado fogo no corpo.
Ao longo do processo, foram protocolados pedidos de revogação da prisão de Damaris, que receberam pareceres negativos do Ministério Público e foram indeferidos pela Justiça. Ela rel

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