Mural da Cidade
Tudo que você precisa saber sobre as cidades do Brasil em um só lugar

Dorrit Harazim e fotojornalista do GLOBO recebem Prêmio Vladimir Herzog

27/10/2025 22:18 O Globo — Rio

O 47º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos foi entregue na noite desta segunda-feira, 27, no Teatro Tucarena, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Dorrit Harazim, colunista do GLOBO, foi agraciada na categoria especial por sua carreira como jornalista e documentarista, enquanto a fotógrafa Márcia Foletto venceu com um registro de uma operação policial no Rio de Janeiro em que uma jovem tapa o rosto de uma criança, de uniforme escolar, para que ela não veja um corpo sendo transportado por uma viela do bairro.
O troféu é um dos mais relevantes do país e teve a primeira edição em 1979. Segundo os organizadores, presta homenagem a personalidades e profissionais da comunicação que se destacam na promoção dos direitos humanos fundamentais. O prêmio leva o nome do jornalista Vladimir Herzog, ex-diretor da TV Cultura e professor da USP, torturado e assassinado pela ditadura militar em 1975, nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo.
— Esse prêmio, que carrega a memória do meu pai, é um tributo vivo a todos que não se calam, muitas vezes arriscando as suas próprias vidas — disse Ivo Herzog, filho de "Vlado".
Dorrit Harazim cobriu olimpíadas, guerras, crises geopolíticas e eventos históricos como o golpe no Chile, a crise do petróleo e a Guerra do Vietnã. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do país e participou da criação das revistas Veja e piauí. Ganhou quatro prêmios Esso, além dos prêmios Maria Moors Cabot, da Universidade de Columbia, e Gabriel García Márquez de Jornalismo, da Fundação Gabo. Lançou, em 2016, o seu primeiro livro, “O instante certo”, que contextualiza uma série de retratos históricos de diferentes autores. Seu talento, profundidade e sensibilidade para contar as histórias foram enaltecidos no evento.
Dorrit lembrou de sua infância, quando deixou a Iugoslávia e rumou ao Brasil em um comboio de imigrantes que fugiram da guerra e declarou que, de certa forma, a "necessidade imigrante de construir pontes se tornou um presente para a vida toda".
— Encorajou-me a cruzar fronteiras de todo tipo, geográficas, culturais, sociais e raciais, sem perder o norte. Ajudou-me a valorizar a escuta, ferramenta essencial para o jornalismo — afirmou ela.
Em outro momento do discurso, abordou o desafio atual da democracia e do jornalismo em uma "era da desrazão", em que até resultados eleitorais passaram a ser encarados como uma questão de opinião por grupos que tentam minar a confiança nessas duas instituições.
— Liberdade de imprensa e democracia são vasos comunicantes, a vitalidade de um depende da força do outro. Nos tempos atuais, ambos se defendem de um adversário novo e difícil de ser combatido: o dissenso mundial em torno do que é verdade — disse.
Ao fim, defendeu o bom jornalismo como aquele que "quebra algo", porque nunca deixa as coisas como estão, e que "faz perguntas incluindo a nós mesmos". E mais uma vez pediu coragem para não silenciar a respeito do conflito em Gaza, a exemplo de cerimônia na Abraji.
— O nosso protagonismo é descomunal, vale a pena usá-lo com o máximo de zelo.
A mesma categoria especial premiou Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau, de Santa Catarina, que atuou em Ribeirão Preto e São Paulo durante a ditadura militar e se tornou uma das principais vozes do campo progressista no período, denunciando violações de direitos humanos. O padre católico era jornalista diplomado, criou jornais de bairro e distribuídos pela Arquidiocese, e foi um dos responsáveis pela descoberta de uma vala clandestina no cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, em São Paulo, onde eram ocultados os corpos das vítimas do regime, no final da década de 1970. Dom Angélico faleceu em abril deste ano.
Márcia Foletto (ao centro), na entrega do prêmio Vladimir Herzog
Foto Edilson Dantas
A fotografia tirada por Foletto é intitulada “Antes que ela veja” e fez parte de uma reportagem de 14 de abril. Ela mostra policiais armados com fuzis numa viela da Ladeira dos Tabajaras, entre Botafogo e Copacabana, carregando um corpo num saco usado para transporte de cadáveres, após uma incursão que tinha como objetivo prender os responsáveis pelo assassinato de um policial civil. Encostada numa parede, uma menina de uniforme escolar com os olhos tapados pelas mãos de uma jovem, que tentava evitar que a criança testemunhasse a cena.
Mulher cobre o rosto de criança durante a passagem de policiais com o corpo de suspeito morto em operação na Ladeira dos Tabajaras
Márcia Foletto / Agência O Globo
O prêmio é realizado anualmente por 18 entidades da sociedade civil, entre elas o Instituto Vladimir Herzog, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), e tem patrocínio da Petrobras e da Lei Rouanet.
Veja a lista de premiados deste ano:
Arte: "Racismo Ambiental", de Diogo Braga (Defensoria Pública do Estado do Ceará).
Fotografia: "Antes Que Ela Veja",

Fonte original: abrir