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Alckmin vai a ato em memória de Herzog, condena ditadura, mas evita se comprometer com revisão da anistia

25/10/2025 20:02 O Globo — Rio

O presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), compareceu neste sábado ao ato em memória de Vladimir Herzog, morto pela ditadura militar há 50 anos, condenou a ditadura militar, mas evitou se comprometer com a revisão da Lei da Anistia de 1979, principal demanda dos familiares das vítimas.
— A morte do Vladimir Herzog foi o resultado do extremismo do Estado que, ao invés de proteger os cidadãos, os perseguia e matava. Por isso, devemos fortalecer a democracia, a justiça e a liberdade - comentou ele. — Eu acho que o brasileiro tem amor à liberdade, tem amor à justiça, tem amor à democracia.
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Miguel de Almeida: Herzog, 50 anos
Ao ser questionado sobre a Lei da Anistia, Alckmin afirmou que "já demos bons passos nessa questão". Já a ministra Maria Elizabeth Rocha, presidente do Superior Tribunal Militar (STM), também presente à cerimônia, afirmou não concordar com a interpretação atual da lei.
O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, durante as homenagens aos 50 anos da morte de Herzog
Edilson Dantas
— A Lei da Anistia é uma lei ordinária, portanto, ela foi revogada não apenas pela Constituição, mas também pelo Pacto de San José, da Costa Rica, pelo acordo da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, que entendem que esse tipo de crime são crimes de lesa humanidade e, portanto, são imprescritíveis e não estão sujeitos a qualquer tipo de perdão — disse ela.
Para a ministra, é preciso revisar esse ponto mesmo que não se tenha perspectiva de punir grande parte dos responsáveis que já estão mortos.
— Houve perdão, mas não houve esquecimento. Temos que rever mesmo que não se puna mais ninguém. É importante fixar uma jurisprudência no Supremo Tribunal Federal que esse tipo de delito é inanistiável.
Ivo Herzog, que perdeu o pai aos nove anos, falou em nome da família.
Fotos de desaparecidos são erguidas durante celebração na Sé
Edilson Dantas
— Hoje nós temos aqui o Estado de mãos dadas com a gente para reafirmar o compromisso com a democracia, a justiça e a verdade — afirmou.
Ato reedita marco da ditadura
Centenas de pessoas prestaram homenagens ao jornalista Vladimir Herzog no ato inter-religioso na Catedral da Sé, em São Paulo. Em sua maioria vestindo branco e alguns com flores nas mãos, familiares e amigos empunharam cartazes de mortos e desaparecidos da ditadura, em uma catedral lotada que, mesmo assim, manteve-se completamente inaudível quando o silêncio homenageou aqueles que foram perseguidos pelos militares. Os presentes também puxaram o coro de "sem anistia" e aplaudiram uma foto da vereadora Marielle Franco.
Organizado pelo Instituto Vladimir Herzog e a Comissão Arns, o evento relembra não apenas a morte de Herzog, mas a reação da sociedade brasileira contra o autoritarismo. Em 1975, indignados com a morte e a farsa de suicídio propagada pela ditadura, cerca de 8 mil pessoas estiveram na Praça da Sé em um desafio silencioso ao regime.
Como lembrou o filho de Vlado, havia “muito medo” entre os manifestantes à época, reiterado pelo aparato de segurança do Estado movido para o centro de São Paulo, o que não impediu a mobilização e os discursos pacifistas do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, do rabino Henry Sobel e do reverendo evangélico Jayme Wright. Neste sábado, coube ao arcebispo Dom Odilo Scherer, ao rabino Uri Lam, da Congregação Israelita Beth-El, e à pastora presbiteriana Anita Wright, filha de Jaime Wright, conduzirem a cerimônia, enquanto a foto de seus antecessores aparecia no telão.
Multidão na Catedral da Sá em ato ecumênico para Vladimir Herzog, em 1975
Antonio Carlos Piccino/Agência O GLOBO
Algumas pessoas estiveram no ato de 1975 e também neste, 50 anos depois. O jornalista Audálio Dantas, que mobilizou centenas de jornalistas como presidente de sindicato no estado, também foi lembrado como um dos protagonistas do episódio.
Foi apresentada uma gravação em que a atriz Fernanda Montenegro lê uma carta escrita por Zora Herzog, mãe do jornalista, em agradecimento ao juiz federal Márcio José de Moraes. Em 1978, diante das tentativas de Clarice obter justiça, ele determinou a culpa do Estado brasileiro em uma sentença histórica. “Fizeram um símbolo do Vlado, justo dele que detestava a notoriedade”, ela escreve no documento.
Herzog, jornalista de origem iugoslava, era diretor da TV Cultura e professor da USP quando se apresentou voluntariamente na sede do DOI-Codi, em São Paulo, para depor sobre a sua relação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1975. O partido operava na clandestinidade por imposição dos militares na época e defendia a redemocratização do país.
Ele foi assassinado sob tortura durante o interrogatório. O Exército alegou, então, que ele teria cometido suicídio em sua cela, o que se provou uma mentira. Com auxílio da polícia científica, os agentes anexaram ao laudo do Instituto Médico Legal (IML) uma foto que se tornaria icônica para representar os abuso

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