Rússia 'agirá de acordo' se os EUA reativarem programa de testes nucleares, diz porta-voz do Kremlin
A Rússia negou nesta quinta-feira as alegações de que teria retomado testes com armas nucleares, mas advertiu que poderá fazê-lo caso os Estados Unidos sigam por esse caminho. Na véspera, o presidente Donald Trump determinou a retomada "imediata" dos testes americanos, suspensos há mais de 30 anos, "devido programas de outros países", sem citar diretamente a Rússia — embora a declaração tenha ocorrido após uma série de anúncios recentes de seu homólogo russo, Vladimir Putin, sobre testes com um submarino de capacidade atômica e um míssil de cruzeiro. Ficou incerto, porém, se Trump se referia à retomada dos testes de ogivas nucleares ou dos mísseis e outros sistemas de lançamento que as transportam.
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— Se de alguma forma os testes de Burevestnik estão sendo insinuados, isso não é um teste nuclear, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. — Se alguém violar a moratória [de 1992, imposta pelo então presidente americano George H.W. Bush, sobre realização de testes nucleares], a Rússia agirá de acordo.
Peskov referia-se aos testes recentes realizados pela Rússia: um "drone submarino" chamado Poseidon, compatível com cargas atômicas, na quarta-feira, e um míssil de cruzeiro que, segundo Putin, tem "alcance ilimitado" e é capaz de burlar praticamente todos os sistemas de interceptação.
Status-6 (apelidado de Poseidon) é amplamente referido como um veículo submarino não tripulado
Reprodução
"Devido aos programas de testes de outros países, instruí o Departamento de Guerra a iniciar os testes de nossas armas nucleares em igualdade de condições", escreveu Trump em sua rede Truth Social, na noite de quarta-feira, acrescentando que os EUA têm o maior arsenal nuclear do mundo, mas que "a Rússia está em segundo lugar, e a China está muito atrás, mas estará em pé de igualdade em cinco anos".
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A publicação ocorreu pouco antes de uma esperada reunião de Trump na Coreia do Sul com o presidente chinês, Xi Jinping.
Em declarações à imprensa durante seu voo de retorno aos EUA, o republicano disse que o governo ainda vai divulgar mais detalhes sobre os testes, mas não explicou exatamente o motivo de sua decisão. Ele reiterou, entretanto, que não tem a ver com a China, mas sim com "outros", sem especificar de qual país estava falando.
Em uma publicação no New York Times, o especialista em cobertura de segurança nacional americana, David Sanger, indicou que a expressão "em igualdade de condições" pode significar que Trump pretende demonstrar o poder dos mísseis americanos ou de meios nucleares submarinos, em vez de realizar um teste nuclear propriamente dito.
Retórica nuclear
A retórica nuclear retornou à diplomacia global desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
A ameaça de uma arma definitiva é uma das ferramentas recorrentes de Moscou. Ao perceber que Kiev não cairia tão rapidamente quanto o esperado, a Rússia ordenou, imediatamente após o início da guerra, que "as forças de dissuasão do Exército russo fossem colocadas em estado de alerta especial de combate".
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Quando perguntado sobre o risco de um descontrole, Trump respondeu: "Não acho. Acho que está muito bem controlado". Na semana passada, no entanto, a Otan realizou um exercício nos Países Baixos, na presença excepcional de jornalistas, para testar seu dispositivo caso a arma precise ser usada algum dia.
Estados Unidos e Rússia permanecem vinculados, em princípio, pelo tratado Novo START de desarmamento, que limita cada parte a 1.550 ogivas ofensivas estratégicas implantadas e prevê um mecanismo de verificações, suspensas há dois anos. O tratado expira em fevereiro do ano que vem. Moscou propôs uma prorrogação de um ano, mas sem mencionar uma possível retomada das inspeções dos arsenais.
'Equilíbrio'
A China, por sua vez, reagiu ao anúncio de Trump instando os Estados Unidos a respeitarem "seriamente" a proibição de testes nucleares e a tomarem "medidas concretas para preservar o sistema global de desarmamento e a não proliferação nuclear".
Embora a China esteja expandindo seu arsenal, não testa uma arma nuclear desde 1996, e a Rússia não realiza um teste confirmado desde 1990. Apenas a Coreia do Norte realizou um teste nuclear no Século XXI, embora a estimativa seja de que mais de 2 mil testes tenham sido realizados desde o pós-Segunda Guerra, incluindo países como França, Reino Unido, Índia e Paquistão.
No decorrer deste ano, Pequim também deu demonstrações de poder militar. Em uma parada militar destinada a marcar os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o Exército de Libertação Popular apresentou alguns de seus arma
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